segunda-feira, 19 de outubro de 2009

começando a escavação

O livro Cities of Articial Excavation: the work of Peter Eisenman, 1978-1988. Reúne os textos de Jean-François Bédard e Alan Balfour (além do próprio Eisenman), que relatam acerca do uso da teoria da escavação nos projetos contidos no volume.









No decorrer das postagens, serão expostos quatro projetos que foram escolhidos pelo grupo. Tal leitura nos proporcionou alguma elucidação maior sobre a comparação da teoria eisenmaniana com a manifestação material da mesma. De modo a reforçar a base para nosso produto de extensão, que será a criação de um parque, seguindo a teoria desconstrutivista estudada, no Pontal da Barra em Maceió-Alagoas.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Visões que se desdobram: a arquitetura na era da mídia eletrônica

Visões que se desdobram: a arquitetura na era da mídia eletrônica foi o último texto lido pelo grupo. Neste ensaio, publicado na revista italiana Domus em 1992, o autor propõe-se a descobrir uma maneira de nos libertar da visão antropocentrista e racionalizadora dominante em nossa sociedade. De início, observa-se que há um espaço de quatorze anos entre este e o primeiro artigo escrito por Eisenman – o pós-funcionalismo – e lido por nós do Labearq, essa constatação permitiu-nos verificar certas mudanças em seu discurso – típicas de um amadurecimento acarretado através dos anos.

O autor aponta que a mudança do paradigma mecânico para o paradigma eletrônico, a partir da segunda metade do século XX, acarretou sérias mudanças na sociedade, mas que essas mudanças não chegaram a interferir na arquitetura. Eisenman mais uma vez traz à tona essa resistência da arquitetura em relação às transformações que se processam mais facilmente em outras disciplinas. Ao se questionar do porquê dessa dificuldade Peter Eisenman encontra na visão, resposta possível a esse problema. O autor passa a contestar questões inerentes à visão e afirma que para que se possa romper com as idéias limitadas de apreensão da forma, nas quais estamos condicionados, é necessária uma profunda crítica da representação (cita que tal objetivo foi alcançado com êxito pela pintura cubista e pela escultura minimalista na década de 60).

Eisenman busca a reflexão sobre a forma que o sujeito olha uma obra de arquitetura – forma monocular e antropocêntrica, vinculada à questão da invenção da perspectiva desde século XVI. A perspectiva direciona o olha e prende-nos a esse modo de ver limitado e racionalizante, pois nos faz apreender o espaço por inteiro e de um só “golpe”. Eisenman fala que a invenção da perspectiva linear se deu numa época de mudança de paradigmas, quando houve o deslocamento do teocentrismo para antropocentrismo. Essa colocação nos leva a pensar em um novo “centrismo”, onde a mídia eletrônica configuraria esse novo centro. De fato, atualmente há o reconhecimento da interferência direta da mídia no pensamento e comportamento na sociedade, mas apesar disso, o homem não saiu do centro do mundo, ele ainda é o ser que o manipula, é ele quem faz que essa revolução tecnológica aconteça. O que acontece hoje em dia é uma mudança naquilo que se domina; o homem agora precisa dominar o conhecimento e não mais a natureza, sem se deixar ser dominado por ele.

O autor coloca que o deslocamento da visão talvez exija uma inscrição que resulte de um discurso externo, que não esteja determinado nem pela expressão de um desejo, nem pela função. Nesse ponto, Eisenman introduz a ideia das dobras, que toma de empréstimo de Gilles Deleuze. A dobra articula uma nova relação entre horizontal e vertical, figura e fundo, dentro e fora, todas essas vinculadas ao modo tradicional limitado de ver as coisas. O objeto dobrado vai se desdobrando e criando relações ininterruptas entre interior e exterior, dessa forma, ao contrário do espaço da visão clássica, a ideia que orienta o espaço dobrado recusa o enquadramento em favor de uma modulação temporal. A proposta é que os espaços “olhem de volta” para o sujeito, que a apreensão destes não se esgote de uma única vez.

Eisenman acrescenta que a dobra pode ser considerada efetiva, pois se materializa, como também significa a passagem de um espaço efetivo para um espaço afetivo, pois dialoga com o sujeito, provocando neste, a necessidade de olhar, de desvendar – que pode ser gerada através da ansiedade (relação com o grotexto). É no final do ensaio lido anteriormente, que Peter Eisenman traz pela primeira vez a questão do usuário. No presente ensaio discutido por nós, percebemos a “preocupação” do autor com esse usuário, com o sujeito (esta preocupação não é com a maneira como os outros usam o objeto, mas sim com a maneira como os outros o observam). Fica evidente, que sua arquitetura é tratada enquanto objeto de arte – pois há o leitor que entende o processo e o usuário que contempla. O grupo observou que o discurso contido nos textos lidos anteriormente era voltado para o leitor-arquiteto (nossa classe de arquitetos entendedores do processo) e não para esse sujeito-contemplador, e que Peter Eisenman sempre esteve vinculado com a questão da autonomia da arte.

A partir da discussão desse ensaio, percebemos que este é o único texto em que Eisenman menciona uma obra sua. Para ilustrar a questão das dobras o autor cita o edifício Alteka Tower, projeto de fez em 1991, para um edifício comercial em Tóquio. Além disso, o autor reconhece que ele próprio representará, num momento futuro da história da Arquitetura, o começo primitivo de uma nova linguagem que estabelecerá tipos. O autor traz essa nova lógica, que foge dos moldes tradicionais da arquitetura, como a lógica prototípica. Essa lógica prototípica seria uma forma que viria anteriormente a própria tipificação do que seria uma arquitetura de dobras. Percebe-se que o que o autor está querendo chamar a atenção não é especificamente a questão da dobra como proposta arquitetônica mas, a maneira de induzir a mudança de olhar, ele mesmo escreve que a dobra não é a única forma de deslocar essa visão.

Fato importante obtido através da análise desse último texto é que, a partir das dobras, Peter Eisenman afasta-se do desenho e alia-se ao computador. Ou seja, é, nesse momento de sua atividade arquitetônica, que Eisenman encontra nos diagramas (espécie de grelha para compor a volumetria e dividir os espaços) sua metodologia compositiva.

Ao final da discussão, o grupo observou ainda, que Eisenman abandona parte das coisas que tinha dito em seu primeiro discurso – a questão da interioridade e da intemporalidade, da rejeição daquilo que é externo – essas mudanças parecem indicar que o arquiteto está começando a entrar na lógica e ritmo do mercado. Para nós é como se o autor tivesse teorizado e agora fosse tentar tornar isso mais palpável, defendendo e conformando sua arquitetura (traz exemplo de um projeto seu), para que esta pudesse se tornar mais aplicável a prática e a lógica arquitetural.

Escrito e postado por: Luísa Estanislau


domingo, 10 de maio de 2009

En terror firma: na trilha dos grotextos

Datado de 1988, publicado no primeiro número da Partt Journal of Architecture, o ensaio que carrega o título EM TERROR FIRMA: NA TRILHA DOS GROTEXTOS; de início ressalta a herança direta de Derrida: Peter Eisenman já começa a manipular as palavras desde o título. Fusionando grotesco com textos. Uma alusão à significância que o grotesco representa, concomitantemente com a nova proposição da arquitetura ser interpretada como um texto (idéia que é exposta no ensaio sobre a figura retórica)fazendo assim, um jogo de significância que será melhor esclarecido no decorrer desta exposição.

O ensaio começa, pontuando algumas idéias explanadas por um de seus clientes, que o próprio Eisenman já havia se preocupado em expor anteriormente: a respeito da arquitetura não buscar uma evolução moderna. Mas agora, com uma nova problemática, a tecnológica que estava cristalizando-se. O fato do homem apenas buscar manter um controle da natureza, e através disto, produzir objetos racionais que materializassem o bom, o verdadeiro, o natural que seriam belos. Contudo, essa dominação não representaria mais o carro-chefe da arquitetura, pois uma nova perspectiva entraria em cena: a tecnologia dominando o homem, em vez do contrário.

Logo, Eisenman propõe um deslocamento do discurso arquitetônico, que além de continuar dominando as forças da natureza, agora abre o foco para essa nova realidade; a do conhecimento que exigiria uma complexidade maior de representação, já que se apresenta como algo não físico, diferentemente da natureza (físico).

Para chegar na conclusão do que seria esse deslocamento, como era de esperar, ele recorre a embasamentos para dar corpo a sua nova proposta. No caso, toma como partida de que toda arquitetura até então, estava fundada da tríade vitruviana (estrutura, comodidade e beleza). Onde o Belo, sendo dialético, estaria ligado ao bom, natural, racional e o verdadeiro; mostrando que independente da estética seguida, a busca destes valores sempre foram os mesmos.

No decorrer de sua explicação, toma Kant como exemplo quando diz que dentro da beleza existia o sublime, que era algo que não estava na esfera do bom e natural (esta condição de estar condito em, será a gênese do processo desta ideologia de deslocamento). Admite que o sublime contém uma condição incerta, indizível, não-natural, não-presente e não-físico (que o belo tenta mascarar, essa semelhança com o terrível).

A definição do grotesco, com a proximidade do terrível (negativo do sublime), não ocorre na arquitetura. Pois o sublime é algo do plano etéreo (não-material), e o grotesco corresponde à matéria, sendo a simbologia das incertezas humanas no plano físico. Logo, a arquitetura(matéria que contém o grotesco) fundada no belo, modela sua espacialidade, de forma a mascarar a presença do grotesco (idéia do disforme e supostamente não-natural) no plano material.

Segundo o artigo, o grotesco é a materialização da relação inquietante do eu, com o mundo natural, provocando essa representação disforme, do incerto e não-natural. Sendo o sublime e o grotesco a relação entre o homem e o mundo natural, explana que para ocorrer o deslocamento, será necessário uma reconceituação dos mesmos no domínio do conhecimento. Trará uma forma mais complexa, que contenha o feio dentro de si, ou uma racionalidade irracional.

O fato de “conter dentro de si”, significa uma ruptura com a tradição das coisas serem em pares opostos e traz quarto aspectos para que haja tal deslocamento.

-O primeiro, diz respeito ao projeto. Onde distancia o deslocamento de um mero expressionismo referente à intuição de gosto (gostar disso ou daquilo). Já que a intuição carrega o repertório arquitetônico, e tal projeto nunca produzirá um estado de incerteza; no máximo ilustrá-la.

Traz o grotesco e o estranhamente familiar, como algo não projetáveis, incertos, mas com possibilidade apenas de conceituação. Diferente do projeto, pois é não-textual, já que exprime uma certeza (para ser materializado); e que toda tentativa de projeto de algo entre o incerto e o polivalente apenas ilustrará superficialmente essas condições.

Para que o deslocamento ocorra, prega que elementos como forma, função, local e significado sejam vistos como textos (o que na realidade não são). Uma distinção importante é a do texto e textualidade: texto seria uma fonte original, e a textualidade uma condição de alteridade ou de coisa segunda. Um exemplo para tal textualidade, é o traço, a presença da ausência explanada no texto da figura retórica. O traço não pode ser original, pois remete a algo precedente, esse potencial de alteralidade tira a dominância da presença. Logo para que haja um traço, deverá existir no mínimo de dois textos.

-O segundo aspecto traz uma duplicidade, que na verdade reafirma o primeiro aspecto. Essa duplicidade não enquadra-se na categoria de forma e função. De estrutura e ornamento, pois são categorias hierárquicas. Já a duplicidade proposta, é referente à uma estrutura de equivalências, existindo uma incerteza, onde o traço nunca irá se sobrepor ao texto. Esse traço, será entendido como algo interior ao texto, que geralmente seria suprimido na leitura hierárquica. Logo a falta de dominância entre as duas presenças dos textos, traz uma condição entre a ausência e presença.

-O terceiro aspecto é uma condição de estar entre. Traz uma nova sugestão de objeto sendo uma imagem fraca, que seria a perca de uma significância majoritária dos textos. Assim os dois textos, com suas respectivas imagens fracas, insinuariam uma terceira imagem desfocada. Essa condição de estar entre (um não dialético, mas dentro de), seria algo que significaria quase uma coisa ou outra, que na verdade não é nada das duas coisas; o deslocamento representa essa incerteza de um conhecer parcialmente.

A arquitetura como uma imagem fraca, afasta as categorias tradicionais dessa dominação do mundo natural.

-O quarto aspecto, q ele pouco explica, chama-se interioridade, e traz dois novos termos: o não-visto e o escavado.

A interioridade, sugere a negação do recinto ou lugar tradicional, não tento ligação com o espaço interno, e sim um condição de estar dentro. Também é referente à textualidade, no que se aborda o significado dos signos da arquitetura deslocada, para dentro de uma condição já existente. O não-visto e o escavado, Eisenman traz que é tal como o grotesco.

Há uma mudança do pensamento do arquiteto que é pontuada no final do artigo. Pela primeira vez, há a figura do usuário, e afasta o gênio romântico no campo da arquitetura. Logo, o objeto não precisando mais do usuário nem do arquiteto para controlarem o mesmo, nem precisando parecer feio, disforme ou não-natural para causar incerteza. E sim esse distanciamento da possibilidade de posse, que irá provocar uma ansiedade.


Escrito e Postado por: Márcio Fernandes Tabosa
Próxima leitura: Visões que se desdobram: a arquitetura na era da mídia eletrônica

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Arquitetura e o problema da figura retórica

Dando continuidade à leitura dos textos de Peter Eisenman, reunidos por Kate Nesbitt em sua antologia teórica, o texto abordado agora é o “A Arquitetura e o problema da figura retórica”. O texto foi apresentado em uma conferência na Universidade de Yale, no ano de 1987 e publicado originalmente na revista “Architecture and Urbanism”.

A partir do pensamento de Sigmund Freud sobre o “comportamento” do espaço, Eisenman começa a construir seu discurso. Para Freud o mesmo espaço não pode abrigar diferentes conteúdos, Peter complementa que essa afirmação é verdadeira, se, e somente se, consideramos que a Arquitetura pertence a algo ou a um lugar.

Essa impossibilidade de sobreposição do espaço é identificada por Eisenman como uma repressão cultural, sendo nomeada por ele como sendo a Arquitetura Clássica. È senso comum, diz ele, a idéia que é tarefa da Arquitetura a representação da realidade, assim como também é papel dela ser também referência, ser centro. Eisenman discorda desse pensamento comum, e segue dizendo que é exatamente o contrário, que é a capacidade de recentrar que faz da Arquitetura ser o que ela é. Para localizar o habitar é necessário que ele (o habitar) se desloque, reinventando-se, e mais uma vez locando (centrando). Prosseguindo com seu pensamento Eisenman diz que para reinventar um local (cidade ou casa) é necessário que haja uma liberdade em relação a seus conceitos, com seus respectivos significados. È preciso que mudemos a maneira de interpretá-las: saindo de uma interpretação tradicional (estética/metafórica) para uma leitura retórica.

Para ilustrar a forma pela qual a Arquitetura pode ser lida de forma retórica, Eisenman, mais uma vez, baseia-se em Jacques Derrida. Utilizando como exemplo a palavra “cat” (gato em inglês), ele explica a seguinte relação: quando lemos a palavra “cat”, não nos demoramos investigando a relação entre as letras, imediatamente a imagem do animal nos vem à cabeça. Através deste exemplo ele afirma que as palavras são transparentes, vemos o significado através delas, em oposição à opacidade transmitida pela Arquitetura. Para exemplificar a opacidade na Arquitetura, ele utiliza o exemplo do elemento estrutural parede. Ele diz que as paredes não só concretamente são opacas, mas é muito difícil conectar outro significado a ela que não seja ela mesma.

Eisenman prossegue postulando de que forma se pode “construir uma parede menos opaca”, ou seja, mais retoricamente. Para fazê-lo, diz ele, é necessário inserir uma ausência. Tal ausência tem que ser implantada, na presença da Arquitetura. Sendo mais objetivo, é necessário que a Arquitetura, em sua presença, não venha arraigada de qualquer conceito anterior, nascendo assim ausente.

Essa ausência é o que Eisenman denomina de figura retórica, em oposição à tradicional figura representacional. Tradicionalmente na Arquitetura, diz ele, há uma predominância da figura representacional que tem valor extrínseco e, por esse motivo, há também nela uma ausência (que neste caso é uma ausência de valor). Por este motivo a figura representacional tem também, a seu modo particular, sua retórica. Em oposição, a figura retórica proposta por Eisenman representa, ela mesma, sua própria ausência. Ela contém a indeterminação de seu sentido, criando assim “signos flutuantes”, sem significados pré-determinados. De uma forma geral, Eisenman quer propor uma nova maneira de se ler e de se fazer Arquitetura. Sua figura retórica é retórica por dois fatores: escreve textos de ausência e, além disso, escreve textos diferentes dos tradicionalmente aceitos na Arquitetura.

Eisenman diz que a figura retórica também propõe uma leitura alternativa dos conceitos de sítio e de objeto. A figura retórica estará bem contextualizada no sítio, quando este último, for tratado como um palimpsesto. Originalmente um palimpsesto é um pergaminho onde a cada vez que se escreve algo novo, as marcas do que anteriormente foi escrito não se apagam, havendo sempre uma sobreposição de “textos”. Ao tratar o sítio como um palimpsesto, Eisenman desfaz a idéia tradicional de sítio como sendo único e com uma idéia culturalmente determinada. Esse novo processo proposto não leva em consideração as características culturais do sítio, ele sobrepõe conteúdos antigos com o intuito de criar um novo significado. O resultado, que é retórico, revela o que ele denomina de textos primitivos. Tais textos obtidos podem ser lidos no resultado final, porém eles não eram previsíveis inicialmente.

Através disso Eisenman inverte a relação hierárquica entre signo e significado. Tratar o sítio como um palimpsesto, sobrepondo sítios antigos, faz com que se sobreponha os significados, com o intuito de se conseguir um “signo final”. O ato de sobrepor, a criação de novos lugares, quebra a noção tradicional de lugar. Cada lugar agora é a junção de vários e diferentes lugares, assim paradoxalmente se reforça a idéia de lugar, mas ao mesmo tempo ela é negada. Como anteriormente dito o resultado é algo indeterminado, algo que não remete a conceitos clássicos, algo desprendido da noção de tempo e espaço. Desse modo a ausência se caracteriza como um aspecto imprescindível para que exista uma figura retórica.

Assim com a introdução das figuras retóricas, se nega os conceitos culturalmente determinados sem negar a própria forma arquitetônica. A diferença agora é que essas formas são ausentes de significados prévios ou posteriores, elas estão destituídas dos valores tradicionais. Assim como nas proposições feitas em “O fim do clássico: o fim do começo e o fim do fim”, Eisenman reconhece também na figura retórica sua condição fictícia.

Eisenman nesse texto adiciona mais alguns argumentos em sua tão notada recusa a ratificar e aceitar os postulados propostos pelo Movimento Moderno, como também pelo seu sucessor o Pós-Moderno, ao mesmo tempo em que colabora com novos termos constribuindo assim para a construção do seu próprio discurso.

Postado e escrito por: Fabio Henrique Sales Nogueira
Próxima leitura:
En terror firma: na trilha dos
grotextos


segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sobre a desconstrução: Peter Eisenman e Jacques Derrida
Após finalizar a leitura do texto ‘O fim do clássico’ era imprescindível que se discutisse a ligação existente entre Derrida e Peter Eisenman. Um fato favorável para este próximo passo foi notar que, entre os cinco textos publicados de Eisenman na antologia da Kate Nesbit, ‘O fim do clássico’ é o único que possui notas explicativas. Supõe-se que a intenção do autor vai além de expor algo de novo ou diferente, e visa realmente esclarecer sobre o que ele entende da história e, principalmente, o que ele propõe como nova atitude. Esta nova atitude dialoga com Jacques Derrida, um dos maiores expoentes da filosofia francesa em meados do século XX que questiona o estruturalismo a partir de uma posição desconstrutivista e que será conhecido como pós-estruturalista. São nas notas explicativas que Eisenman reforça sua idéia como também indica qual foi sua fonte de consulta e, a partir desta indicação, o encontro do LABEARQ que se sucedeu após a discussão do texto ‘O fim do clássico’, buscou esclarecer a relação entre a desconstrução derridariana e a construção do discurso de Eisenman.

O livro utilizado para tal objetivo foi ‘Sobre a desconstrução: teoria e crítica do pós-estruturalismo’ de Jonathan Culler editado nos EUA pela primeira vez em 1982, dois anos antes da publicação de ‘O fim do clássico’. O livro trata da desconstrução enquanto prática lingüística e filosófica, e para a discussão na arquitetura é, especificamente, o capítulo 2, intitulado Desconstrução, que mais interessa. Com isso, os esclarecimentos feitos neste encontro do LABEARQ consideraram o universo derridariano utilizado por Eisenman a partir do livro de Culler, já que é esta a obra referenciada por Eisenman. Não há a intenção, a princípio, de aprofundar a análise da obra de Derrida, mas sim de compreender o que e como Eisenman transfere para a arquitetura questões tão específicas da lingüística e da atitude filosófica.

Os termos derridariano destacados para esclarecimentos foram: origem e causa; presença e ausência; e enxerto e traço. Colocados em pares, os termos são interligados por outros fatores como posição e oposição hierárquica, différance, intenção, sentido do ato, contexto. Os pares destacados estão no texto ‘O Fim do Clássico’, concentrados nos itens ‘Fim do Começo’ e o ‘Fim do fim’, exatamente, as partes em que Eisenman apresenta a sua proposta.

Origem e causa

A causa, enquanto causalidade, é um conhecimento básico. Todos compreendem que a relação causa-efeito é dada por uma hierarquia em que a causa antecede o efeito dentro de uma consciência lógica universal. Ou seja, a causa é o começo só reconhecido após a associação com o efeito.

A palavra origem traz a idéia de que há um valor implícito não conhecido, isto é, uma condição prévia ainda não valorada que só será reconhecida a partir de sua relação com o fim. Esta afirmativa, decorrente da consciência universal, complementa a noção de causalidade, isto é: a causa é começo e origem, enquanto o efeito é término e fim.

É este posicionamento que Derrida questiona: a hierarquia e a oposição existente entre termos que precisam ser explicados, onde só se entende um a partir de outro, sendo esta uma prática constante na filosofia.

Dentro da lógica acima apresentada, Eisenman demonstra de forma objetiva que “o processo de composição ou transformação” da arquitetura, seja esta clássica humanista ou modernista humanista tardia, parte de uma estratégia causal de concepção de projeto. A estratégia causal na arquitetura é, para Eisenman, adição e subtração dos elementos de composição espacial, onde a causa (funcional) é a origem, decorrente de uma posição classicista, arbitrária e determinista, que gera um efeito: a forma.

Notou-se que o questionamento de Derrida foi identificado por Eisenman na disciplina arquitetura a partir da relação função-forma. Esta constatação decorre não apenas do entendimento da argumentação, mas pelas próprias expressões utilizadas por Eisenman – origem, causa e efeito – que explicitamente estão presentes nos esclarecimentos da idéia que Derrida propõe contrapor. A principio é possível ver que este último influenciou Eisenman.

Entretanto, a crítica de Derrida, ou seja, a desconstrução, quer reverter “a posição hierárquica do esquema causal” fazendo com que o efeito, elemento que permite a identificação da causa, seja ele também a origem. Se ambos são origem, então esta não possui mais o privilégio metafísico, não podendo, com isto, ser entendida pelo sistema anterior e, portanto, o rompendo (CULLER, 1997).

Esta essência derridariana não é encontrada no texto de Eisenman já que este propõe que “inventar a arquitetura é deixar a arquitetura ser uma causa, e para ser uma causa ela deve nascer de algo alheio a uma estratégia de composição” (EISENMAN, 1984, p.245) [grifo nosso]. Percebeu-se que o discurso de Eisenman ainda está impregnado da lógica universal de causalidade, não há uma intenção explícita de construir sua argumentação a partir do que Derrida pretende reverter.

Presença e ausência

Para entender a proposição de Eisenman é preciso compreender a presença, e esta é uma questão revelada por Derrida a partir do questionamento da oposição hierárquica presença-ausência, e da différance como conseqüência desta oposição. Ambas decorrentes do desconctrutivismo que pretende ao invés de falar da presença pelo que se vê, fala-se dela, ‘presença’, como efeito do que não se vê, ou seja, a ausência.

“Uma desconstrução envolveria a demonstração de que, para a presença funcionar como se diz, deve ter as características que supostamente pertencem ao seu oposto: a ausência. Assim, em vez de definir a ausência em termos de presença, como sua negação. Podemos tratar a ‘presença’ como o efeito de uma ausência generalizada ou, de différance” (CULLER, 1997, p.110).

Como citado falar do presente em função do que está ausente leva a différance, isto é, a alternância indecidível: a ambivalência que um mesmo elemento pode significar, sendo a sua compreensão dependente de um contexto. O elemento significante desta différance existe na desconstrução como uma intenção, onde, para compreendê-lo, é preciso perceber o sentido do ato e o contexto, pois este último, ao mesmo tempo em que limita o sentido é ilimitado nas interpretações.

Diante do exposto, o questionamento e, conseqüente, o posicionamento desconstrutivista da oposição presença-ausência leva ao enxerto e o traço.

Enxerto e traço

Analisando a estrutura do discurso de Eisenman pode-se afirmar que, a utilização de figuras textuais derridarianas apresenta-se como o que o próprio Derrida reconhece como suplemento em Rousseau, e que na sua desconstrução vai denominar enxerto. De forma sucinta, o próprio ato de escrever serve de suplemento para a fala. O suplemento é algo extra, exterior, completo em si mesmo, que adiciona algo a alguma coisa que deveria ser completa em si mesma. A suplementação é possível por uma lacuna originária (CULLLER, 1997).

Os termos enxerto e traço são suplementos, completos em si mesmo pela própria definição conceitual de Derrida, que, ao ser adicionado no texto de Eisenman, permite suplementar sua proposição de uma arquitetura não-clássica. A lacuna originária está no próprio clássico que não alcançou mudanças significativas na história da arquitetura. Esta constatação permite dizer também que Derrida é o suplemento do discurso teórico de arquitetos contemporâneos como Eisenman.

“A desconstrução é, entre outras coisas, uma tentativa de identificar enxertos nos textos que analisa: quais são os pontos de conexões e tensões nos quais um argumento, uma linha ou um elemento derivado se entrelaçam? (...) A desconstrução elucida a heterogeneidade do texto” (CULLER, 197, p.155).

Vale destacar que, em nota, Eisenman deixou claro que não pretendia descobrir enxertos como o desconstrutivismo sugere, mas sim introduzir enxertos. Com isto, partindo para a compreensão do que Eisenman propõe como não-clássico e que está no âmbito do processo projetual de trabalho, o enxerto está ligado a origem. Criticando as origens clássicas e modernas por serem estas sempre provenientes de uma causalidade, o autor mantém a arbitrariedade, porém isenta de qualquer valor universal. A arbitrariedade deve ser artificial e relativa e o enxerto é uma origem artificial.

Nota-se no discurso que, mesmo criticando a causalidade da origem clássica e moderna, Eisenman busca definir a origem na sua proposta e esta é fruto de uma “motivação para a ação – isto é, o início de um processo” sem valores extrínsecos, é artificial: um enxerto. Esta definição da origem não é demonstrada dentro do entendimento de Derrida exposto acima, ela é claramente dita dentro dos parâmetros universais de causalidade, já que a origem (enxerto) esta na ação metodológica do próprio processo projetual e não está, por exemplo, no resultado final deste processo. Esta percepção fica clara quando Eisenman afirma que um enxerto é “um local inventado que possui menos as características de um objeto do que as de um processo” (1984, p. 244). No discurso de Eisenman, a origem está claramente ligada a causa, o que o afasta da essência desconstrutivista de Derrida.

Antes de conectar o enxerto ao traço no discurso de Eisenman é preciso pontuar em Derrida. O traço em Derrida é um elemento que pertence ao enxerto, ele é um termo utilizado para explicar o enxerto como também o é: ato, sentido, intenção e contexto. O enxerto, que são pontos de conexão e tensão, somente podem ser descobertos no sistema lingüístico a partir do entendimento do sentido do ato – a intenção do autor não determinante – representado por diferentes traços que são lacunas, ou seja, a ausência de uma presença limitada pelo contexto.

Como exemplo, a palavra pharmakon identificada pelo próprio Derrida ao desconstruir obra Fredo de Platão. Pharmakon significa ao mesmo tempo remédio e veneno, onde o sentido do ato só pode ser entendido no contexto. Este termo é a própria différance, pois é ambivalente e, na estrutura do texto de Platão é o suplemento: o enxerto. Da palavra ainda deriva Pharmakeus e Pharmakos que são, respectivamente, mágico e espião. O elemento pharmak é o traço, pois demonstra a ausência da presença que apenas pode ser apreendida dentro do contexto. É esta a lógica do enxerto juntamente ao traço derridariano, “pharmakon é o movimento, o lócus e o jogo (a produção) da differance” (DERRIDA apud CULLER, 1997, p.164).

O traço pode ser entendido como um vestígio instituído que Eisenman aproxima da idéia de “motivação para a ação”. Em nota explicativa, o autor afirma que a motivação assemelha-se a différance de Derrida, pois a motivação “é a força interior de um objeto que causa o seu dinamismo em todos os pontos de uma transformação contínua” que só pode ser legível pelo traço. A motivação pertence ao enxerto, ou seja, a ação do processo projetual que somente é vista pelo traço.

A utilização do termo traço por Eisenman é distinto do que Derrida diz em um único sentido. Derrida ao tratar do traço como movimento relaciona-o ao passado e presente. Para ele o presente não pode servir de base se for autônomo, ou seja, se não considerar o passado como um antigo presente e o futuro como um presente antecipado. Derrida trata o presente como a ‘presença’ de uma ausência generalizada. O presente não é e não pode ser autônomo.

E aqui Eisenman discorda, pois a afirmação de Derrida contradiz as convicções intuitivas de que o presente é absoluto. Se “o instante presente não é algo dado, mas o produto das relações entre passado e futuro” (CULLER, 1997), então para Eisenman, Derrida está dizendo que não pode haver uma origem a priori, isto é, uma origem originária. Esta discordância ao redor do termo traço, decorre do fato de Derrida associar a différance à impossibilidade de isolar a ‘presença’ como entidade (EISENMAN, 1984).

A discussão acerca do enxerto e do traço, juntamente a outros fatores percebidos no texto, conduziu o encontro do LABEARQ à compreensão de que Eisenman está discursando sobre uma necessária mudança no ato projetual, ao qual pertencem o enxerto (como local de novo método) e o traço (como o vestígio da ação deste novo método) para que seja possível mudar a atitude arquitetônica. Eisenman propõe “a idéia da arquitetura como ‘escrita’ em oposição à arquitetura como imagem”. E afirma que “o que está sendo ‘escrito’ não é o objeto em si – sua massa e volume – mas o ato de dar forma”.

Ao fim do encontro foi possível concluir que a ligação existente entre Eisenman e Derrida não pode ser compreendida na essência derridariana. O desafio que se coloca agora é visualizar, no sentido de materializar, o discurso no ato projetual de Eisenman, por exemplo, identificar o que seria o traço fisicamente. O LABEARQ parte do pressuposto que não é possível afirmar que Eisenman é desconstrutivista como Derrida, porém reconhece que a atitude de Eisenman tem um diferencial que pode até ser chamado de desconstrutivista, mas acredita que para isto é preciso justificar o termo, não apenas pelo discurso, mas também pelo entendimento da matéria arquitetônica.
Postado e escrito por: Manuella Marianna Andrade
Próxima leitura:
Arquitetura e o problema da figura retórica

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O fim do clássico: o fim do começo, o fim do fim

Para análise dos textos, o grupo adotou como metodologia a leitura cronológica dos artigos de acordo com seus respectivos anos de publicação. Dessa forma, pretende-se visualizar o processo de construção e evolução do pensamento de Peter Eisenman, e também facilitar a percepção do reflexo da produção teórica nas obras arquitetônicas do autor. O texto abaixo foi escrito a partir das reflexões levantadas na discussão, realizada pelo grupo, do artigo em questão.


O texto discutido no segundo encontro, O fim do clássico: o fim do começo, o fim do fim (1984) é um desdobramento da teoria proposta no Pós-funcionalismo (1976) acerca a perpetuação do clássico na arquitetura ao longo dos últimos cinco séculos. O artigo em questão se propõe a elaborar uma alternativa ao clássico. Essa alternativa começou a ser anunciada no texto anterior, quando Eisenman introduz o pós-funionalismo, termo de ausência, que atenta para a necessidade de elaborações teóricas que se posicionem frente à “nova consciência na arquitetura” que, segundo o autor, está potencialmente diante de nós.


Eisenman defende que a arquitetura desde o Renascimento até a atualidade, esteve ligada à expressão de três ficções – a representação, a razão e a história - que conformaram uma continuidade no pensamento arquitetônico: o Clássico. Com a intenção de ser intemporal, significativa e verdadeira, a arquitetura tem incorporado valores clássicos como atributos inerentes à sua linguagem, o que na verdade não se verifica. Sendo assim, na opinião do autor, toda a produção abraçada por esse período ininterrupto da História é essencialmente clássica, e perpetuação desse estilo vem sendo causada pela persistência dessas três ficções. O grupo observou que o autor já inclui como objeto de sua crítica o Pós-Modernismo, período no qual o texto foi escrito.


Para caracterizar a primeira ficção, a representação, o autor afirma que antes do Renascimento havia a congruência entre linguagem e representação, ou seja, o significado do objeto estava expresso nele mesmo. Na discussão, foi citada como exemplo a arte da Antiguidade que portava o seu significado sem a necessidade de recorrer a símbolos passados ou imagens futuras para se justificar. (A Arte clássica existia de facto).


Durante o Renascimento, a mensagem expressada pelas obras arquitetônicas do classicismo, não podia ser desligada da relação desse período com o passado clássico. O significado do passado foi manipulado para representar o que era interesse do presente, assumindo a forma de diferentes possíveis mensagens.


Neste ponto, o grupo sentiu a necessidade de explicitar a diferenciação entre mensagem e significado, que consiste na existência de um contexto autêntico. Enquanto o significado foi gerado a partir de uma realidade específica e se relaciona com esta, a mensagem é uma variação do significado, quando este é utilizado em um contexto estranho ao de sua origem.


Eisenman se apropria do termo de Baudrillard para afirmar que o Renascimento foi a primeira ficção involuntária do objeto, caracterizando-se como uma simulação, já que realidade ao qual ele remete (clássico) não existe mais. O significado está descontextualizado.


Para o autor, a arquitetura moderna também se converteria em simulação. Ao fazer da função a fonte de imagens de suas formas, conferindo a estas um aspecto limpo e sem ornamentos, revelava-se a verdadeira essência do objeto ao invés de propor uma outra linguagem. Outro ponto a se destacar é que a arquitetura modernista conservou a utilização de sistemas compositivos inerentes ao clássico, o que permite dizer as duas tendências continham relações semelhantes, apesar da diferença fisionômica dos objetos gerados.


Por volta do século XVIII, o homem toma consciência que não é o agente originante de todas as ações, estando estas sujeitas a vários processos que não podem ser reduzidos em termos de causa e efeito. Nesse contexto, a razão volta-se sobre si mesma, realizando sua análise, tornando mais complexos os sistemas de conhecimento.


Os tratadistas tentaram descobrir a forma pura, origem da arquitetura, mas a busca por significados acabou se convertendo na ocorrência de várias mensagens diferentes. O grupo fez referência ao Cenotáfio de Newton, projeto de Boullée que demonstra simbolicamente a estreita relação, nesta época, entre a verdade da arquitetura e a ciência.


Diante dessa sucessão de análises, os argumentos se converteram em métodos de persuasão dependentes da fé na razão. Nesse contexto, o autor afirma de a arquitetura não possuiu imagens da razão, e sim do desejo e da crença nesta, desta forma, se configurando em mais uma simulação.


Ao tratar da terceira ficção, a história, Eisenman demonstra que a preocupação moderna de romper com o passado e simultaneamente representar o Zeitgeist era uma contradição. Ao refletir o espírito da época, o movimento levou em conta a existência de um passado - do qual a sua atualidade se converteu em continuação - e se comportou como as demais linguagens arquitetônicas: produziu formas que fariam parte de um passado temporal através da história do Zeitgeist.


O autor inabilita o Zeitgeist como fonte do objeto arquitetônico pela incapacidade de determiná-lo de dentro do processo histórico no qual está inserido. O moderno não percebeu que sua produção fazia parte do mesmo bloco contínuo do clássico porque estava inserido no processo, sendo assim, incapaz de obter o distanciamento necessário à análise.


Na caracterização desta última ficção, o grupo pôde notar que Eisenman começa a traçar as bases de sua proposta, ao ressaltar a necessidade de se produzir uma arquitetura que não tenha por objetivo único ser reflexo do seu tempo. Como alternativa, ele propõe que seja produzida uma forma intemporal, não-universal, isenta de significado e livre de uma única verdade extrínseca à arquitetura.


Também foi notado que o autor não nega a história, apesar de condená-la como fonte de imagens. Ele apenas propõe uma escolha diferente que parte do reconhecimento da forma como agente da arquitetura.


Após defender que nem na representação, nem na razão e nem na história podem ser encontradas as fontes da arquitetura, Eisenman propõe uma outra ficção, dessa vez voluntária, ou seja, que reconhece seu caráter ficcional. Essa ficção é uma dissimulação e, ao contrário da simulação, não tenta destruir as diferenças entre realidade e ilusão.
A ficção de Eisenman, o não-clássico, não consiste no inverso do clássico nem em outro modelo estilístico – já que os modelos só causam a perpetuação dessas ficções -, mas sim em outro modo de fazer arquitetura que parte de outras escolhas.


O autor propõe que a arquitetura não se alimente de valores extrínsecos a ela, e que entenda e explore os atributos de seu potencial poético enquanto linguagem ao invés de dar importância à expressão representacional do objeto. A proposta de Eisenman produz uma arquitetura intemporal, não-figurativa e arbitrária. O autor destaca a sua artificialidade, o que levou o grupo a questionar se esta teria alguma relação com o processo computacional de construção da forma, através do uso da matemática expressa na tecnologia da era digital.


Eisenman acredita que a existência de uma origem preconcebida já traça o destino da forma em termos de composição. Por isso, ele propõe a adoção de origens arbitrárias que seriam simples pontos de partida e marcariam o início de um processo, onde a direção tomada não teria importância e nem conduziria a um fim específico. Nesse ponto, o autor se apropria de termos de Derrida, adaptando-os à linguagem arquitetônica de acordo com a conveniência de sua teoria.


O enxerto seria o corpo desse elemento arbitrário, inserido dentro de um contexto ao qual não se refere e perante o qual não assume significado. O enxerto é uma analogia ao processo e não uma representação de um determinado objeto. É uma motivação para a constante mudança. Apesar de possuir uma lógica interna, ele é arbitrário por não traçar uma linha de compreensão específica.


Confirmando a expressividade dada ao processo, nessa nova consciência proposta, Eisenman busca em Derrida outro termo para embasar sua teoria: o traço. Este seria a marca do ato de conceber a forma como uma escrita.


A existência do traço implicaria na presença de um leitor - no lugar de um observador ou de um usuário - consciente da existência de um evento de leitura e que não almeja decodificar o significado, que a esta altura já não tem importância. Na discussão, foi questionado se o autor não estaria idealizando um perfil romântico de leitor, ao mesmo tempo distanciado e alheio a valores de utilidade culturalmente atribuídos à arquitetura.


O grupo entendeu o traço como a manifestação de vários elementos que conformariam o objeto não-representacional, expressando uma ação em processo. O fato de Eisenman se apropriar dos conceitos de Derrida segundo a conveniência de suas teorias, fez o grupo sentir a necessidade de buscar compreendê-los em sua origem, recorrendo à bibliografia citada pelo autor em suas notas de referência. Será realizada a leitura de capítulos do livro Sobre a desconstrução: teoria e critica do pós-estruturalismo de Jonathan Culler, como fonte necessária à compreensão da teoria de Derrida utilizada pelo autor.


Ao final da discussão, pôde-se perceber que este artigo já apresenta traços metodológicos deste novo posicionamento frente à linguagem arquitetônica. Essa metodologia não se expressa em termos de estratégia visando um fim específico, que o autor tanto rejeita, mas em termos de características de uma atitude relacionada à atividade prática.

Escrito e postado por: Flora Paim Duarte

Próxima leitura:


A arquitetura e o problema da figura retórica.


segunda-feira, 30 de março de 2009

Pós-funcionalismo

O primeiro encontro do LABEARQ foi destinado à leitura e interpretação do texto escrito pelo arquiteto americano Peter Eisenman, pós-funcionalismo, publicado originalmente em 1976 na revista Oppositions 6.

O texto trata da construção de um novo termo criado pelo autor, o pós-funcionalismo. Essa nova expressão designa o período que comumente chamamos de pós-modernismo. Termo que, para Eisenman, é incoerente devido à inexistência de uma arquitetura moderna pregada em sua essência de rompimento com o passado.

Para o grupo, o primeiro problema encontrado para uma compreensão mais clara do texto, foi a falta de conceituação de termos, como moderno, modernismo, modernista, que o autor se apropria durante todo o discurso. Com isso ele parte do pressuposto de que todos conhecem as definições adotadas e que o entendimento do texto não ficará comprometido.

O principal argumento defendido pelo autor para justificar a sua posição é que a relação entre forma e função não é uma característica própria da arquitetura moderna, mas sim um conceito utilizado desde o período renascentista. Abordada dentro das teorias humanistas, que consistem justamente no equilíbrio entre a disposição interna e a elaboração formal, a arquitetura produzida antes do advento da industrialização apropriou-se da visão idealizada entre o homem e o mundo e buscou refletir na sua prática toda a responsabilidade do ser humano como o grande agente criador de tudo.

Como bem expressa o autor, no período industrial esse equilíbrio pareceu não existir. O funcionalismo da arquitetura pregada pelos modernos tentou romper com todo o resquício de articulação equilibrada entre forma e função (agora a primeira deveria ser consequência da segunda). Essa prática foi considerada como idealista e apenas permitiu que o funcionalismo fosse classificado como uma fase tardia do humanismo. Logo, a tão sonhada particularidade e inovação, ou “sensibilidade modernista”, almejada pela arquitetura moderna não encontrou no funcionalismo o seu grande expoente.

Na verdade, o grupo percebeu que a arquitetura moderna não alcançou em nenhuma de suas características essa “sensibilidade modernista”. Ela apenas sugeriu que fez algo diferente, quando não fez. Apenas forjou uma nova identidade que não conseguiu libertar-se do passado histórico, não conseguindo ser inovadora.

Esta sensibilidade proposta pelo autor e analisada pelo grupo, está justamente na substituição ou “virada” (como ele mesmo trata) do humanismo para o modernismo, alcançada nas vanguardas artísticas.

Eisenman não expõe o que seria essa “virada” do humanismo para o modernismo. Ele apenas indica que um dos sintomas seria o deslocamento do homem do centro do mundo e que o termo pós-funcionalismo inicia quando se tem a consciência de que existe uma nova sensibilidade.

O grupo concluiu que o autor não deixa explícito o que foi essa “virada” porque em muitos momentos não se tem consciência dessa mudança. Mas que isso foi feito de forma que o próprio autor possa construir a sua versão acerca do que seria essa passagem do humanismo para o modernismo.

Depois da leitura e interpretação do texto, foi levantado um questionamento acerca da produção do arquiteto Peter Eisenman, que será respondida ao final de todos os textos:

Qual característica predomina na obra do arquiteto Peter Eisenman? Forma ou função?

Escrito e postado por: Kamilla Moraes de Souza

Próxima leitura:

O fim do clássico: o fim do começo, o fim do fim.